Sem perspectivas de uma mudança de quadro, a obesidade cresce a passos largos no Brasil. Dados da última Pesquisa Nacional de Saúde (PNS) apontam que a proporção de obesos na população com 20 anos ou mais de idade mais que dobrou no país entre 2003 e 2019, passando de 12,2% para 26,8%. No mesmo período, a proporção da população adulta com excesso de peso passou de 43,3% para 61,7%.
Felizmente, o avanço dos tratamentos para emagrecimento tem acompanhado o ritmo. Do desenvolvimento de medicamentos ao uso da inteligência artificial, a tecnologia tem colaborado para possibilitar que os pacientes possam combater a obesidade com técnicas cada vez menos invasivas e resultados ainda mais satisfatórios.
O gastroenterologista focado em tratamentos endoscópicos para obesidade Joffre Rezende Neto explica que cada etapa da obesidade, a começar pelo sobrepeso, tem seus tratamentos específicos recomendados. “Quanto mais leve a doença, menos agressivo deve ser o tratamento. Sempre começamos com a prática de atividade física e dieta. Quando não funciona, vamos para os medicamentos e depois para os balões gástricos. Em último caso, a cirurgia bariátrica para pacientes que estão com quadro de obesidade bem avançado”, diz.
Segundo o especialista, os exercícios físicos e o controle alimentar são indispensáveis em qualquer fase do processo de emagrecimento. E os medicamentos, se utilizados de forma correta e com acompanhamento médico, podem ser aliados importantes, mesmo no longo prazo.
Nos casos em que essas primeiras opções não funcionam, deve-se recorrer a outras alternativas, como os balões gástricos. “São procedimentos ambulatoriais, temporários, reversíveis, relativamente mais acessíveis e passíveis de serem repetidos. A desvantagem é que 2% das pessoas não toleram a presença do balão e têm sintomas muito intensos e recorrentes, tornando necessário retirar a prótese”, afirma o médico.
Apenas em último caso, apela-se para a bariátrica, também conhecida como “redução de estômago”. O procedimento consiste na retirada de parte do estômago para reduzir sua capacidade de receber alimentos. A cirurgia também afeta a produção do hormônio da saciedade, levando à diminuição da vontade de comer. Apesar de ser um procedimento considerado seguro, trata-se de uma técnica invasiva e que requer cuidados pós-operatórios para evitar complicações graves.
Simplificação
Joffre também explica que em todas estas opções houve avanços no tratamento. Mas uma recém-chegada ao Brasil está chamando a atenção pela simplificação do processo. Trata-se do balão deglutível da Allurion, já presente em mais de 50 países e com o uso no Brasil aprovado pela Agência Nacional de Vigilância Sanitária (Anvisa) em outubro do ano passado.
Assim como os balões tradicionais, se trata de uma prótese que é preenchida com 550 ml de um soro fisiológico estéril dentro do estômago do paciente, passando a ocupar cerca de 70% do órgão e, consequentemente, promovendo saciedade com doses menores de comida.
“O que muda é a forma de implante. O tradicional é colocado por endoscopia com o paciente sedado e precisa ser retirado. Já o deglutível é colocado sem nenhum tipo de procedimento invasivo. O paciente simplesmente engole a cápsula na frente do raio-x e está implantado o balão, que também não precisa ser retirado”, destaca.
Além da prótese mais segura e mais leve, a Allurion tem uma plataforma digital para acompanhamento com inteligência artificial. Com o apoio de uma balança específica e de um smart watch, um aplicativo de celular é capaz de transmitir informações sobre a saúde do paciente, como o peso e as rotinas de sono e de exercícios, à equipe da clínica. Os médicos responsáveis também recebem os dados para poderem traçar com mais precisão os próximos passos do tratamento.
Por meio da inteligência artificial, é possível identificar se um paciente está ou não no caminho para atingir a perda de peso esperada, permitindo que os médicos melhorem o sucesso da empreitada. “É um método que não altera a anatomia do estômago e que pode ser repetido quantas vezes forem necessárias. Associado aos recursos tecnológicos, o balão deglutível tem se mostrado uma opção extremamente satisfatória para o combate à obesidade, com a vantagem adicional de não ser uma técnica invasiva”, ressalta Joffre.
Os números atestam a eficácia e segurança do tratamento. Pesquisa realizada com 3.716 pacientes de nove países demonstrou que a média de perda corporal após quatro meses do procedimento foi de 14,1%.
Outro estudo, feito entre 2016 e 2022 com 232 pacientes que utilizaram o balão da Allurion, demonstrou que aqueles que sofriam com obesidade grave (IMC maior que 40) perderam 20,5% de seu peso total. Já os que tinham IMC menor que 40 tiveram uma perda de 17,7%. Nenhum caso de adversidade grave foi registrado. Os resultados foram apresentados durante a edição de 2023 do encontro anual da Sociedade Americana de Cirurgias Metabólicas e Bariátricas, em Las Vegas.
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