A vitamina B6, um micronutriente também conhecido como piridoxina, piridoxal ou piridoxamina, faz parte do complexo B, contendo características e benefícios comuns entre os nutrientes do grupo. Ela é responsável por quase 100 reações químicas do organismo, incluindo funções metabólicas, hormonais, imunológicas, hepáticas, entre outras atividades vitais.

Segundo estudo do Programa de Psicobiologia do Departamento de Psicologia e do Laboratório de Nutrição e Comportamento da Faculdade de Filosofia, Ciências e Letras de Ribeirão Preto (FFCLRP) da USP; a ausência deste composto pode comprometer o funcionamento do organismo e o desempenho do sistema nervoso central.

“O corpo não consegue sintetizar sozinho as vitaminas do complexo B, sendo necessário o consumo de alimentos que contenham a vitamina ou por meio de suplementos”, afirma Paula Molari Abdo, farmacêutica pela USP, diretora técnica da farmácia de manipulação Formularium, especialista em Atenção Farmacêutica pela USP e membro da ANFARMAG (Associação Nacional de Farmacêuticos Magistrais).

De acordo com a especialista, a deficiência de vitamina B6 pode ocorrer em casos de ingestão excessiva de proteínas, prática intensa de exercícios físicos, gestação, pessoas que fazem diálise ou uso de medicamentos com efeito antagonista à piridoxina, como a isoniazida, penicilamina, hidralazina, cicloserina e as tiazolidonas. “Estas medicações formam complexos com a molécula da vitamina, inibindo sua função”.

Para entender melhor os mecanismos da vitamina B6, a farmacêutica listou os fatos mais importantes sobre o micronutriente:

Ajuda no metabolismo e evita anemia: A vitamina B6 auxilia na produção de hemoglobina, responsável pelo transporte de oxigênio na corrente sanguínea (pelos glóbulos vermelhos). Um dos benefícios da vitamina está presente no metabolismo de energia dentro das células.

“Isso ocorre porque estas substâncias auxiliam na decomposição de células de carboidratos, lipídios e proteínas, convertendo-as em energia. Desta forma, as células são capazes de operar adequadamente, recebendo estímulos para sua reprodução. Além disso, a vitamina desempenha a função de controlar o nível de glicose no cérebro e absorver o ferro de maneira eficiente, prevenindo ou amenizando quadros de anemia”, diz Paula Molari.

Auxilia no equilíbrio da saúde mental: A vitamina B6 participa da síntese de hormônios/neurotransmissores como dopamina, serotonina, noradrenalina, melatonina e ácido gama-aminobutírico (mais conhecido como GABA, que bloqueia os impulsos entre as células nervosas do cérebro). “Todos eles regulam o bom humor, prazer, bem-estar e relaxamento, bem como inibem ansiedade, estresse, dor e até depressão”.

Uma pesquisa da Universidade de Reading, do Reino Unido, confirmou estes efeitos com 478 voluntários (homens e mulheres) com ansiedade e depressão, dividindo-os em três grupos. Um deles consumiu doses diárias de comprimidos de vitamina B6. O outro, suplementação de B12, enquanto o último recebeu placebo. Ao final do estudo, as pessoas que tomaram o comprimido da B6 perceberam melhorias nos quadros de ansiedade e depressão. Por sua vez, a B12 trouxe outras vantagens, como o aumento dos reflexos visuais após testes específicos.

Estimula as funções cerebrais/cognitivas: Hormônios como a serotonina e a norepinefrina são promovidos pela atuação da vitamina B6. Ela também interfere na formação da bainha de mielina, que reveste os nervos e participa da condução do impulso nervoso. “Por consequência, a B6 estimula a concentração, a memória, o humor e a atenção, sendo importante também na prevenção da depressão e ansiedade”, pontua a farmacêutica.

Além disso, diversas pesquisas sugerem que a vitamina B6 pode ter um efeito benéfico em crianças com transtornos de aprendizagem e comportamento, em especial, o TDAH (Transtorno de Déficit de Atenção e Hiperatividade).

Diminui sintomas da tensão pré-menstrual (TPM): A pesquisa da Universidade de Reading, do Reino Unido, também associou a suplementação diária de magnésio e vitamina B6 no alívio dos sintomas relacionados à tensão pré-menstrual.

Com uma média de idade de 32 anos, 44 mulheres receberam diariamente, por um ciclo menstrual, quatro formas de tratamento: (1) 200 mg de magnésio, (2) 50 mg de vitamina B6, (3) 200 mg de magnésio + 50 mg vitamina B6 e (4) placebo. O estudo constatou uma redução significativa de vários sintomas da TPM entre o grupo que recebeu 200 mg/dia de magnésio + 50 mg/dia vitamina B6.

“Além de regular o fluxo sanguíneo, o nutriente atenua os sintomas da tensão pré-menstrual, como dores nas mamas, náuseas, cólicas, fadiga, dores de cabeça e até acne que ocorre antes do ciclo menstrual”, completa Paula Molari Abdo.

Previne doenças cardiovasculares: A vitamina B6 participa da regulação dos níveis de homocisteína, uma substância que, em excesso, pode danificar a parede dos vasos sanguíneos. Além disso, o nutriente ajuda a controlar o colesterol e a manter a pressão sanguínea em níveis ideais, evitando problemas como arteriosclerose e infarto.

“A falta da vitamina B6 pode estimular o acúmulo de placas nos vasos sanguíneos. Com o tempo, é possível haver um episódio de ataque cardíaco ou um acidente vascular cerebral (AVC). Nestes casos, a suplementação da vitamina B6 pode auxiliar no tratamento médico, seja no processo de reversão do quadro como no gerenciamento da pressão arterial e dos níveis de colesterol”.

Combate inflamações articulares: Baixos níveis de vitamina B6 foram associados aos sintomas de artrite reumatoide. Uma pesquisa publicada no European Journal of Clinical Nutrition observou os benefícios anti-inflamatórios da suplementação de vitamina B6 em pacientes com artrite.

No estudo, 35 adultos com artrite reumatoide receberam 5 miligramas por dia de ácido fólico, ou 5 miligramas de ácido fólico mais 100 miligramas de vitamina B6 por 12 semanas. A conclusão foi que a suplementação de vitamina B6 teve sucesso à resposta inflamatória em pacientes com artrite reumatoide.

Beneficia a gestação e amamentação: As mulheres grávidas e as que amamentam precisam de uma dose adicional de vitamina B6 para compensar as necessidades do bebê. A vitamina B6 auxilia no metabolismo da proteína consumida, que será usada na produção de leite materno.

“Para garantir a ingestão dos níveis ideais de vitamina B6 neste período, o ideal é buscar ajuda médica, que irá suplementar o nutriente conforme as necessidades da gestante”, aconselha Paula Molari.

Onde encontrar a vitamina B6: Fontes de origem animal (carne suína, carne bovina, aves, leite, fígado bovino, salmão, camarão, coração, atum, ovos, entre outros) e fontes de origem vegetal (abacate, banana, cereais integrais, feijão branco, soja, gérmen de trigo, ervilha, nozes, batata, aveia, pistache, espinafre, melancia, tomate, entre outros).

Segundo a farmacêutica, as quantidades deverão ser estabelecidas de acordo com as necessidades fisiológicas, levando em consideração sexo, idade, histórico de saúde, medicamentos de uso contínuo, entre outros fatores. Mas, geralmente, o ideal a ser consumido são 5mg diários, tanto para mulheres como para homens saudáveis.

Efeitos do consumo em excesso: Apesar da piridoxina possuir baixa toxicidade, doses de 200mg/dia podem provocar intoxicações neurológicas, como fraqueza, dormência e/ou dor nos nervos (normalmente nas mãos e nos pés), e distúrbios digestivos, como diarreia, náuseas e cólicas intestinais.

“Daí a importância de consumir suplementos apenas sob orientação médica. Doses baixas ou próximas às recomendadas podem ser prescritas por nutricionistas e farmacêuticos. Já as doses mais elevadas só podem ser receitadas por médicos”, finaliza Paula Molari Abdo.

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