Comprimido digital? A Food and Drugs Administration, agência que regula alimentos e medicamentos nos EUA, acaba de aprovar o primeiro sensor para comprimidos que sinaliza quando ele foi tomado.

Este é o primeiro passo dos medicamentos.

A novidade é chamada Abilify MyCite, e foi criada especialmente para o tratamento da esquizofrenia e transtorno da bipolaridade. Assim, o médico ou até familiares podem acompanhar de perto se os medicamentos estão sendo tomados na frequência e quantidade correta. O objetivo é prevenir emergências que acontecem quando pacientes não tomam o remédio, como episódios de mania em pessoas com transtorno de bipolaridade.

“Conseguir rastrear a ingestão de medicamentos prescritos para doenças mentais pode ser muito útil para alguns pacientes”, diz o diretor de medicamentos psiquiátricos do FDA, Mitchell Mathis.

Como ele funciona

O comprimido digital é uma combinação de dois produtos que já existem há anos: o medicamento antipsicótico Abilify (Aripiprazol) e um sensor desenvolvido em 2012.

O sistema de rastreamento tem um minúsculo sensor do tamanho de um grão de areia, chamado Marcador de Evento Ingerível. Ele é composto por quantidades seguras de cobre, magnésio e silício.

Depois que o comprimido com o sensor são engolidos, o ácido estomacal ativa o sensor, enviando sinais elétricos para um adesivo colado no peito do paciente. Este adesivo registra a data e hora que o comprimido foi tomado e envia a informação para um aplicativo. A informação não é enviada para o app em tempo real, e pode levar algumas horas para ser atualizada.

Usuários do app podem conferir os dados do paciente. Quem não se sente confortável compartilhando esse tipo de informação com outras pessoas não precisa se preocupar: apenas médicos e familiares autorizados têm acesso a esta informação.

Para a família do paciente, porém, a novidade pode ser um alívio, porque é difícil saber se o paciente realmente está seguindo o tratamento. Ele pode ter dificuldade de se lembrar de tomar a medicação ou resistir ao tratamento.

Problemas de privacidade

A ideia, porém, pode assustar pessoas com tendência à paranoia. “Muitos pacientes com esquizofrenia não tomam os medicamentos porque não gostam dos efeitos colaterais ou não acreditam que têm uma doença, ou até porque eles se tornam paranoicos com o médico ou com suas intenções”, diz o psiquiatra Paul Appelbaum, da Universidade de Columbia, ao The New York times. Para ele, o sensor deveria ser utilizado em outros tipos de tratamento, mas não para pacientes esquizofrênicos.

Os desenvolvedores do medicamento, Otsuka Pharmaceutical Co. e Proteus Digital Health não aconseguiram apontar estudos que mostram a melhora da aceitação do tratamento pelo paciente quando eles são observados de perto.

Outro obstáculo é que já que os médicos autorizados saberão se o paciente está seguindo o tratamento, é possível que o paciente não queira voltar para se consultar com ele, com medo de levar bronca por ter pulado alguns horários. Como as interações médico-paciente serão se o sensor for utilizado?

O FDA antecipa uma onda de medicamentos que se auto-monitoram nos próximos anos. Assim, novas perguntas vêm à tona relacionadas à ética, privacidade e direitos pessoais dos pacientes.


Hypescience Por: Juliana Blume

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