“Meu ‘rolê’ é totalmente ‘for fun'”. “Eu preciso de adrenalina”. “Adrenalina faz falta”. Estas frases poderiam, tradicionalmente, ter saído da boca de adolescentes que acabam de voltar de uma volta na pista de skate do bairro. Mas elas foram ditas por duas mulheres com mais de quarenta.

Isabel Aranha, 41 anos, é uma delas. Admiradora do skate desde os nove, quando acompanhava de longe as manobras do irmão, ela precisou de quase três décadas para mudar de idéia. “Achava que skate era coisa de homem. Até que pensei: daqui a pouco faço 40 anos. Se não começar agora…”.  Hoje ela participa de campeonatos e está sempre está em busca de novos “rolês”. “Faz cinco anos que pratico o skate downhill (onde o skatista desce uma ladeira, fazendo manobras em zigue-zague)”, explica Aranha. “Tem que ser destemida, porque o skate começa a andar rápido na ladeira e o medo tem que desaparecer. Também precisa gostar de se arriscar”, explica.

A outra autora das frases “radicais” é Márcia Farkouh. Com 46 anos e 4.680 saltos acumulados em quase 18 anos de esporte, ela é a segunda mulher que mais saltou de pára-quedas no Brasil. “Meu irmão foi fazer um salto em julho de 1991, mas quem acabou saltando fui eu. Desde então não parei”. Hoje, Márcia é professora de uma escola que forma pára-quedistas profissionais.

Mas Márcia e Isabel são exceções. As mulheres ainda representam um número muito pequeno dentro do universo dos esportes radicais no país. Segundo o Datafolha, em 2006 existiam cerca de 3,2 milhões de lares brasileiros com pelo menos um skate. Deste contingente, apenas 8% eram lares de mulheres skatistas.

Dados da Confederação Brasileira de Pára-quedismo também confirmam a tese. Dos 233 pára-quedistas profissionais cadastrados na entidade, apenas cinco são mulheres. “Realmente não é um esporte para qualquer um, mas todos deveriam experimentar, pelo menos, um salto na vida”, recomenda Márcia Farkouh.

Família

esquiFilhos e relacionamentos são empecilho para mulheres que praticam uma atividade tão arriscada? “Tenho 46 anos e não pretendo parar. Mas chega uma faixa etária em que algumas mulheres começam a considerar todas as hipóteses para não saltar. Algumas garotas mais novas param de praticar quando se envolvem com alguém que não pratica. Outras mulheres param quando têm filhos”, diz Márcia, que é casada, mas não tem filhos. Isabel, solteira e também sem filhos, discorda. “Eu tenho muitas amigas que praticavam, tiveram filho e depois voltaram a andar”, discorda Isabel.

Independentemente de filhos, maridos e riscos, os médicos recomendam cuidado. “Pessoas que praticam esportes radicais são expostas a altas descargas de adrenalina. Isto pode desencadear uma arritmia cardíaca que, às vezes, nem é percebida pelo atleta”, alerta o cardiologista do Hospital do Coração e professor da Unifesp, Abraão Cury. O médico também ressalta que, a partir dos 40 anos, aumentam as chances de problemas coronários. A melhor saída, segundo o médico, é fazer exames e consultas periodicamente. “Assim como as mulheres vão regularmente ao cabeleireiro, pintar as unhas, também precisam estabelecer uma rotina de consulta ao médico”, finaliza.

Bem-estar

Mas nem só de riscos vivem as esportistas. Os benefícios físicos e psicológicos parecem incontáveis, de acordo com a análise de quem pratica as modalidades com freqüência.

“O pára-quedismo me deixa com vontade de viver mais, para continuar superando os desafios. E para conseguir continuar, eu dou mais valor à saúde, pratico yoga e musculação”, explica Márcia.

A motivação também se reflete na vida da skatista Isabel. “Aos domingos, quando muitas mulheres estão em casa assistindo à televisão, estou com meus amigos, andando de skate em algum local afastado da loucura da cidade”, revela. E cada vez que desce a ladeira fazendo zigue-zague, ela volta feliz, com o skate debaixo do braço e a certeza de mais um objetivo “feminino” alcançado. “Subir a ladeira de volta é bom para os glúteos. Não preciso ir para a academia, como muitas mulheres fazem”, finaliza, sorrindo.

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